Todo o dia acordava na noite mais escura e saía acompanhado dos primeiros raios de Sol. Com minha vestimenta típica, sempre observava pela janela a rotina lenta do amanhecer urbano, num dos trajetos fixos das conduções cariocas. Todos meus amigos viam essa época de nossas vidas como um atraso desagradável à liberdade da vida adulta. Já eu, que sempre fui contrário a todas as opiniões padronizadas de nosso meio. Não por atenção ou rebeldia, mas por nunca entender essa grande pressa de pular etapas, que é tão comum em todas as infâncias. Sempre temi que ela passasse tão depressa, que a aproveitei todos os seus prazeres.
Enquanto todos viam os retrocessos, meu grupo sempre viu as mordomias. Sendo de escola pública não pagávamos passagem. Essa vantagem sempre nos permitiu ir a qualquer lugar que quiséssemos, dentro das limitações de nossa cidade. Com nossos 15 anos, tínhamos uma liberdade de locomoção digna de qualquer adulto de 40 e podíamos ir a lugares sozinhos, que nenhuma criança jamais pensaria, além da grande vantagem da meia entrada. Com a caridade vinda dos nossos pais, éramos criativos e sempre aproveitamos nossas vantagens do dia a dia nos intervalos de nossa única obrigação, que nunca foi um obstáculo e sim um passa tempo até a hora da nossa liberdade.
Gostávamos tanto de nossas regalias, que nunca deixamos nada atrapalhar. Nunca chegávamos em noites avançadas ou bobeávamos das obrigações. Bem, na verdade em tempos sempre fazíamos isso, mas com nossa habilidade de malandros, sempre driblávamos os falatórios e escondíamos às evidencias. Mas como nenhum crime é perfeito, sempre vazava algo e soprava pra alguém, que virava a zoação de mais uma história que tínhamos pra contar.
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