Um plano. Todo o dia chegávamos sonolentos e mal humorados por acordar tão cedo e ter que enfrentar uma viagem, mas sempre aquele suvaco vinha com um plano. Toda manhã tínhamos nossa rotina retardada. Um xingamento do porco, uma pancada no touch, uma piada do bebê sapo, uma besteira desse gordo e um plano, sempre tinha um plano. Esse plano sempre envolvia pedir um real e fazer algo que alguém não queria fazer, mas era o nosso plano.
Você me pergunta, de onde saíram tantos um real? Meus amigos, nem eu que vivi sei muito bem, mas sempre conseguíamos. Tínhamos várias formas certas de conseguir como os meus dez reais do ladrão, os trocados do bolso de moeda do touch e os inacabáveis um real do espinhoso. Eu sempre tinha dez reais na carteira para serem roubados pelo ladrão. Meu pai sempre diz, que todo o ladrão fica nervoso quando assalta alguém sem dinheiro e faz um covardia, então sempre me dava esses dez reais. Só que eles sempre eram usados em caso de emergência, porque todos sabiam que era uma fonte esgotável. Nossa fonte legítima era o espinhoso e seu encanto pelo nosso amigo bebê sapo. Por jogar no time contrario ao nosso, de vez de se fascinar pelos fascínios dos melões de Polyana, espinhoso tinha mesmo era um fascínio pelo porte skatista de nosso amigo. Suvaco, um eterno moleque travesso que só, se aproveitava e extorquia todos os dias um real de espinhoso fazendo sempre a mesma promessa.
Esses reais nos sustentaram por incríveis dois anos inteiros, até o derradeiro e inevitável cumprimento de nosso girino ao espinhoso. Um dia histórico que destruiu nossa fonte dos desejos. Nunca pensaríamos que um simples “oi”, faria alguém tão feliz. É porque éramos crianças inocentes que nunca tínhamos provado desse sentimento tão incrível e odioso, que nos faz sofrer uma dor desumana em troca de um prazer inexplicável. Esses reais que nos sustentaram para idas a cinemas, shoppings, salgados bolotas e Uruguaiana, valeram ao espinhoso um dia repleto de felicidade.
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