Falas reais em um sonho profundo.

 

Hoje sinto vontade de fazer algo diferente, não que não queira escrever meus longos poemas ou minhas gritantes repetições. Mas hoje é um dia diferente e bem especial, hoje é o dia que descobri o quanto sou feliz.

Quem nesse mundo pode dizer que recebe uma intervenção familiar toda a vez que desvia um pouco de um caminho promissor? Quem nesse mundo consegue em uma reunião de amigos poder enxergar todo o amor que esplandece em uma amizade? Quem nesse mundo pode dizer que encontrou seu verdadeiro amor?

Bom número de pessoas vê em seus pais uma base forte que os impulsiona por uma vida inteira, eu posso dizer que além deles tenho seres humanos que me amam sem a razão da lógica. Minha mãe sempre me diz que é porque sou o primeiro da fila, mas te garanto que ordem cronológica nenhuma pode explicar o que eles fazem por mim. Dias atrás em uma reunião familiar o tema foi minha pessoa. E nessa reunião, cinco palestrantes e uma espectadora tiveram como tema, eu. Foram exatas seis horas de palavras soltas acompanhadas de xingamentos com um único objetivo de me fazer despertar desse status de coma interminável em que passo. Infelizmente eles não conseguiram me tirar dessa situação, mas o amor e devoção por trás de todos os julgamentos aquecem até hoje meu corpo para que volte com tudo após despertar.

Minha sorte acompanha o tamanho do meu corpo e a cada dia cresce um pouco, e isso eu posso ver pelos meus amigos. Tem algumas frases clichê, como “Tenho poucos amigos, mas eles valem ouro”, que simplificam o círculo de amor sem desejos que movem o mundo. Minha sorte é tão grande que posso ter à audácia de dizer que tenho muitos amigos. Ontem tive a prova viva disso, ao organizar uma festa de aniversário. Sou filho único, mas digo para que quiser ouvir que tenho muitos irmãos e amigos de fé que posso contar a qualquer hora. Ontem em meu aniversário vivi um momento de grande verdade e percebi quanta sorte eu tenho em minha vida.

Voltando aos clichês, “Eu tenho a cereja do bolo”, “eu tenho o morango da sobremesa”, e mesmo tendo bilhões de palavras para descrever esse valor em minha vida, eu prefiro descrever um simples ato que expressa todo o meu sentimento. Eu estou desempregado e com pouco dinheiro em meu bolso. Qualquer ser humano dirá que é prudente guardar o dinheiro e protegê-lo de qualquer quantia desnecessária, e eu concordo plenamente com todos eles. Muitos dirão que eu sou hipócrita em concordar com esse pensamento e mesmo assim fazer as loucuras que ando fazendo. Mas sempre repito que concordo em não gastar qualquer quantia desnecessária, mas quando se tem a necessidade o dinheiro que resta tem sim que ser gasto. E é isso que ando fazendo em minha vida e todos os pensamentos e sentimentos estão expressos num único gasto de 18 reais feitos em uma loja da SAARA no centro do Rio de Janeiro. Todas as bilhões de palavras e trilhões de gestos e toques que posso fazer para expressar meus sentimentos estão colocados em uma simples armação de aço guardado em uma bolsa da moda.

Hoje não estou mais em um coma, mas continuo num sonho profundo. Tenho certeza que muitos me recriminarão pela sorte que tenho e mesmo assim ainda continuo apagado para vida. Eu tenho plena consciência que tenho muita sorte e que só não estou morto pelo brilho dessa sorte. Xingamentos são poucos para mim e eu mereço o acumulo de todos eles. Às vezes esses xingamentos se contrapõem a minha sorte e isso finalmente me faça despertar. Não sei o que eu tenho e se isso é uma doença ou apenas tristeza da vida. Pois consigo ser muito feliz dentro dessa bola imensa de infelicidade.

Estou vivo pelos queridos, pois ao contrário estaria morto em minhas próprias forças. Se eu preciso de um tapa na cara ou um carinho nas costas eu não sei, pois recebi vários deles durantes esses anos e mesmo assim não me fizeram despertar. Mas ontem tive a grande certeza, que não importa o que acontecer eu sempre terei um ombro amigo e um carinho familiar. E espero com todas as minhas forças que esse meu status vegetal não espante um amor.