Isso ainda não tinha se tornado um hábito. Já tinha vivido várias vezes no palco improvisado do altar de meu antigo picadeiro, mas nunca de maneira tão intensa e desafiadora. Antes eu tinha uma consciência que não seria cobrado, por não ter nenhum tipo de incentivo ou aprendizado. Mas agora era diferente, eu tinha a base, o incentivo, a crítica e a oportunidade para mostrar alguma qualidade. Agora era pra valer e tinha todos os motores para ficar inquieto e frenético.
Estando há segundos de apresentar uma adaptação de um clássico. Eu vivia o verdadeiro clima de uma tragédia. Comigo estavam oito companheiros quietos com suas respirações aceleradas, usando o momento para vestir suas máscaras e cumprir suas moiras. Moiras dadas por nosso oráculo que nos apresentava na arena. Semanas de preparação, com todos os tipos de discussões e vaidades, estavam culminando no passar daqueles fatídicos minutos que estaríamos por enfrentar. Esses minutos que não só enfrentaríamos um clássico de sentimento forte e trágico, mas também uma avaliação rigorosa de nossos convidados e oráculo. A espera passou e as luzes se apagaram nos dando segundos de total escuridão e concentração. A coxia ficou para trás e o palco virou a base de nossos pés. Uma luz forte nos cegou ao mesmo tempo em que nos deu um destaque completo de nosso ato. E uma certeza reinou no fundo de minha alma naquele exato momento.
A certeza que estava no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa. O lugar de aparência circense, a hora melancólica dada pela chuva que caia e a coisa mais emocionante e inspiradora que tinha feito até aquele momento. Deram-me toda a felicidade que precisei naqueles quinze minutos cravados que se passaram. Nem as criticas, os esporros e as discussões que vieram após me abalaram, nada disso era importante. Não sou um Deus para precisar de perfeição deste meu primeiro ato, a perfeição seria buscada a partir dele. O que importava naquele momento é o simples fato de achar tudo o que procurava.
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